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Fernando Guerreiro

Os prejuízos à saúde da constante busca pelo "corpo perfeito"

Fernando Guerreiro

29/08/2020 04h00

Crédito: iStock

Em uma conversa com a esteticista Magali Soletti, ela me relatou alguns fatos, como o ocorrido em 2017, em Dublin, na Irlanda: uma menina de apenas 11 anos se matou porque "não tinha o corpo ideal". A garota sofria por não ter a forma igual a de mulheres que via nas redes sociais e nos desfiles e, em seu diário, relatou todo o seu sofrimento.

Outra história com desfecho triste, porém que deixou um legado, como que um alerta para muitas pessoas, sendo adolescentes ou não, é relatada no livro de Augusto Cury "A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres". Trata-se de Sarah, modelo famosa, 16 anos, que decidiu acabar com a própria vida. Obcecada por um corpo perfeito, ela se tornou agressiva, depressiva e atormentava-se para atingir o impecável padrão de beleza veiculado nas mídias sociais. Sua mãe Elizabeth, decidiu pedir ajuda ao psiquiatra Marco Polo, que fez um diagnóstico preciso, síndrome do Padrão Inatingível de Beleza.

Essa síndrome acomete muitas pessoas e pode variar de intensidade, mas destrói a autoestima e a saúde física e mental de todos que são diagnosticados com o transtorno. Foi então que a mãe Elizabeth decidiu ajudar outras pessoas que vivem com o mesmo problema da filha.

Voltando à conversa com a esteticista Magali Soletti, ela me relatou que é muito comum ter clientes que sonham com o corpo perfeito e a ajuda eterna. Para alcançar rapidamente esse padrão, eles desejam realizar cirurgias, procedimentos estéticos invasivos e que muitas vezes desfiguram sua própria imagem.

"Não sou contra a melhora da aparência física, mas devemos nos atentar para um estilo de vida saudável, com bem-estar, e buscar alcançar a forma física possível para cada um, não a que vemos nas redes sociais ou na televisão. Afinal, beleza é individual, única, e é nisso que consiste o belo, na singularidade do ser", acredita Soletti.

E é claro que não é só nas clínicas de estéticas que encontramos pessoas que cometem excessos para chegar ao corpo que acreditam ser "ideal", seguindo um padrão imposto pela sociedade. Acontece bastante também no meu mundo, o da atividade física, em que vemos pessoas exagerando no treino, fazendo dietas altamente restritivas e usando hormônios para mudar o corpo. Tudo isso, pode trazer graves prejuízos para a saúde física e mental.

Segundo o Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, a busca desenfreada pelo corpo perfeito, pelo cabelo lindo, pela pele jovem pode causar alguns transtornos e síndromes como: depressão, estresse, problemas financeiros, problemas de autoestima, sentimentos de inadequação, anorexia, bulimia e outros distúrbios alimentares.

Entre os transtornos alimentares, além da anorexia e bulimia, que são mais conhecidos, é importante citar a ortorexia. Trata-se da obsessão por alimentos saudáveis. Ou seja, a pessoa não se permite em hipótese nenhuma consumir nada sem ver o rótulo detalhadamente. Outro transtorno que pode ocorrer em quem busca constantemente o "shape perfeito" é a vigorexia, uma síndrome de distorção de imagem que faz a pessoa ficar constantemente insatisfeita com o corpo, por mais forte ou definida que esteja. Isso leva não só a dietas restritivas, como também ao excesso de treinamento e o uso de anabolizantes, com o intuito de melhorar ainda mais a forma física.

O que você precisa ter em mente é que o foco da atividade física e da alimentação deve ser sempre buscar saúde e bem-estar. Perder peso ou definir os músculos pode ser uma consequência da prática de exercícios, mas não deve ser um objetivo que você busca a qualquer custo, para ficar parecido com o corpo de um atleta ou de uma influenciadora que viu nas redes sociais. A realidade e a genética de cada um são muito diferentes. Então, espelhe-se em você, não no corpo dos outros.

Está mais do que claro que buscar um modelo ideal de beleza baseado nos outros cria armadilhas e geralmente está relacionado a três sentimentos básicos que movem o ser humano: importância, aceitação e pertencimento. A busca em conseguir ser aceito pelo outro, em pertencer a um certo padrão social e em sentir-se importante só faz crescer o número de pessoas infelizes com a própria imagem, alimentando o consumo excessivo de produtos e recursos da indústria da beleza.

Para além das da aparência física o espelho revela angústias profundas.

Se você está vivendo algo parecido ou conhece alguém que vive assim, busque ajuda de um profissional, alguém que possa te ajudar a encontrar a essência que trará aceitação para a sua vida da forma que você é, e que essa é a forma mais linda que você tem de ser e existir.

Sobre o autor

Fernando Guerreiro é formado em Educação Física, especializado em treinamento funcional e ultramaratonista. Também é head coach da We Move Brasil, equipe especializada em desenvolver um estilo de vida saudável e transformador.

Sobre o Blog

Dicas e mensagens motivacionais para os homens que desejam melhorar a cada dia seu estilo de vida através da atividade física. Um espaço para tirar dúvidas e também para encontrar a motivação que o levará a quebrar barreiras físicas e mentais.